Uma pesquisa inédita feita por cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos dimensionou o impacto climático da reconstrução da Faixa de Gaza, região palestina destroçada pela ofensiva de Israel contra o grupo terrorista Hamas. Segundo a análise, a reconstrução de cerca de 200 mil edifícios e residências irá gerar até 60 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), o que supera as emissões totais de países como Portugal e Suécia.
O impacto de longo prazo será ainda maior, já que a conta não inclui o processo de limpeza da Faixa de Gaza. Estima-se que cerca de 26 milhões de toneladas de detritos foram deixados depois dos bombardeios sistemáticos empreendidos por Israel nos últimos seis meses.
O estudo também estimou a pegada de carbono das operações militares em Gaza. Os ataques terrestres e aéreos durante os primeiros 120 dias de combate geraram emissões superiores ao total da pegada anual de carbono de 26 das nações mais vulneráveis às mudanças climáticas, como Vanuatu. Mais de 99% das 652.552 tCO2e geradas nos primeiros quatro meses de guerra estão ligadas ao bombardeio aéreo de Israel.
Outro impacto analisado é o das operações humanitárias que tentam aplacar o sofrimento e a fome em Gaza. Os cerca de 1,4 mil carregamentos feitos entre o Egito e Gaza, todos em caminhões, geraram cerca de 9 mil tCO2e. Outras 52 mil tCO2e vieram de geradores movidos a diesel, a única fonte de energia elétrica em Gaza depois da destruição da rede elétrica da região, incluindo instalações solares que respondiam por quase 1/4 da energia produzida na região.
“Embora a atenção do mundo esteja corretamente focada na catástrofe humanitária, as consequências climáticas deste conflito também são catastróficas”, afirmou Ben Neimark, professor da Queen Mary University de Londres (R. Unido) e coautor do estudo, ao Guardian. “Uma das graves consequências da guerra em Gaza foi a violação massiva do direito a um ambiente limpo, saudável e sustentável”.
A guerra em Gaza perdura há seis meses, desde que o Hamas infligiu um ataque terrorista em 7 de outubro passado que resultou na morte de mais de 1,1 mil israelenses, a maioria civis, e cerca de 247 civis e militares capturados como reféns. A resposta militar israelense, criticada pela maior parte do mundo por sua violência desmedida, resultou na morte de mais de 36,5 mil palestinos, a maior parte crianças e mulheres.