Acordo de US$ 300 bi anuais, muito aquém do US$ 1,3 tri almejado, força país a reabrir negociação na COP30 de Belém, em 2025
O fim dos trabalhos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de Baku, a COP29, demonstra que alcançar um acordo final não exime seus participantes de serem cobrados por um malogro considerável.
Do encontro no Azerbaijão esperava-se primordialmente a definição de um valor coerente para o financiamento climático dos países em desenvolvimento pelas nações mais ricas. É preocupante, pois, o fato de ter havido consenso sobre cifra tão diminuta.
O montante anual de US$ 300 bilhões, a ser desembolsado até 2035, foi cravado no texto na madrugada deste domingo (24), em Baku, passado mais de um dia do fim da conferência. Distante do US$ 1,3 trilhão ao ano almejado, seria um valor risível não fossem os recorrentes desastres advindos da mudança climática.
Antecipado por inúmeras cassandras, o acordo pífio refletiu a tensão primária de cada negociação desde a longínqua Rio-92, quando a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foi adotada —ou seja, a conta a ser paga pela transição energética e as medidas de adaptação e de mitigação dos efeitos do aquecimento global.
O compromisso das democracias industrializadas —que se desenvolveram à custa de fabulosas emissões de gases do efeito estufa ao longo de dois séculos— de cobrir as despesas de países mais pobres e vulneráveis acabou diluído. O meio ambiente e a corrida contra o tempo passaram ao largo no Azerbaijão.
A condução azeri, que mergulhou os negociadores em questões secundárias, em muito pesou no resultado. Por se tratar de um petroestado autoritário, não foi exatamente uma surpresa, mas a COP29 desnudou outros entraves que certamente desafiarão o Brasil como líder da COP30 de Belém, em novembro de 2025.
A onipresença de Donald Trump, que estará de volta à Casa Branca em janeiro, foi perceptível. Os europeus, ressabiados com a possível nova saída de Washington do Acordo de Paris, recuaram na cifra a ser aportada pelas economias mais ricas, enquanto os americanos desapareciam das discussões.
A desatualizada classificação dos países por seu grau de desenvolvimento econômico imprimiu inconsistência ao xadrez de Baku. A China, maior emissora de gases e segunda potência econômica global, saiu-se ilesa de integrar o grupo doador obrigatório de recursos —com o vexatório apoio do chamado Sul Global.
Tais entraves estarão vivos na COP30, quando espera-se fechar um compromisso mais ambicioso dos quase 200 países sobre a redução das emissões; um objetivo absolutamente crucial para o futuro sustentável do planeta.
Ao aceitar um trato ruim em Baku, por considerá-lo melhor que um desacordo indefinido no tempo, o Brasil ruminará o desafio adicional de reabrir as discussões sobre financiamento climático. Mas, na COP30, um desenlace precário terá peso ainda maior.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/11/fiasco-da-cop29-coloca-pressao-sobre-o-brasil.shtml